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Mais de metade dos jornalistas guineenses considera que há influência política no jornalismo

Um inquérito aplicado a 100 jornalistas guineenses revela que 52% dos entrevistados considera que há muita influência política no exercício da profissão na Guiné-Bissau


A Associação das Mulheres Profissionais da Comunicação Social (AMPROCS) realizou um inquérito a 100 jornalistas (70 mulheres jornalistas e 30 homens jornalistas) nos últimos meses sobre a condição dos jornalistas na Guiné-Bissau, cujos resultados foram agora divulgados. O relatório Condições das Mulheres e Homens Jornalistas na Guiné-Bissau demostra a falta de independência económica dos jornalistas guineenses, bem como a interferência política nas tarefas dos profissionais da comunicação social e a falta de vontade política em garantir a liberdade de imprensa e de expressão.


Mais de metade dos entrevistados (52%) defende que há interferência política no exercício da profissão, com 92% dos respondentes a referir que o Governo não está empenhado no combate à violação da liberdade de imprensa. As notícias recentes de ordem de encerramento de rádios por falta de pagamento da taxa de emissão são apontadas como exemplo das dificuldades por que passam os órgãos de comunicação social do país.


Decisão essa que a AMPROCS considera como tentativa de amordaçar e controlar os órgãos de comunicação social nacionais e que condenou nas primeiras horas, através de um comunicado de imprensa onde também pediu a sua revogação.


No que diz respeito à situação económica dos jornalistas, os dados revelam ainda que 66% dos jornalistas não aufere um salário e apenas 34% admite ter um salário fixo. No universo de 34 jornalistas inquiridos e que declararam ter um salário fixo 27% pertencem a órgãos privados e 7% são de órgãos públicos.


A igualdade de género também ainda não chegou às redacções guineenses. As mulheres jornalistas continuam a ser relegadas para chefias intermédias, e na sua maioria continuam a ser jornalistas de base. Além disso, os respondentes do inquérito revelam ainda que há discriminação no agendamento de trabalho nos órgãos da comunicação social, com as mulheres a referir que as suas agendas estão mais relacionadas com os trabalhos sociais por se aparentarem “mais sensíveis” a estas questões e são afastadas de temas como a economia ou a política.


Este estudo, da autoria do jornalista Baducaram Imbenque, foi realizado no âmbito do projecto Monitoria de Direitos e Liberdades: Empoderamento de mulheres e jornalistas em contexto de instabilidade, levado a cabo pela AMPROCS, com a Associação para a Cooperação Entre os Povos (ACEP), Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), MIGUILAN e a Casa dos Direitos, com o apoio da Cooperação Portuguesa.




Guiné-Bissau na 78.ª posição do Índice de Liberdade de Imprensa


A Guiné-Bissau surge na 78.ª posição do Índice de Liberdade de Imprensa de 2023 dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) hoje divulgado. De acordo com a organização, nos últimos anos na Guiné-Bissau, uma “forte deterioração do ambiente de segurança para os jornalistas, combinada com pressões políticas e económicas, criaram um ambiente difícil para o jornalismo”.

No que diz respeito ao contexto político, os jornalistas convivem com “uma instabilidade política crónica”, referindo a alegada tentativa de golpe em Fevereiro de 2022.


Os RSF referem também que o Presidente da República Umaro Sissoco Embaló ameaçou fechar várias estações de rádio por não terem alegadamente as licenças regularizadas e o canal de televisão estatal suspendeu um jornalista por este se ter recursado a entrevistar o presidente quando participava num torneio de futebol. O comunicado relembra ainda que em Janeiro de 2022 as autoridades ordenaram o encerramento da rádio Capital FM, uma das emissoras mais populares do país.


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